top of page

A arte como instrumento de autotransformação e autoestima

Gabriella Sperati

Por Maria do Carmo Tirado CRP/SP 42494

Parceira ConQuistaH Consultoria Psicológica



Quando me foi proposto esse tema, não imaginava o quão amplo seria discorrer sobre tal. Tive uma oportunidade inicial de ministrar uma aula nessa temática e, assim, vislumbrei a diversidade que vem por trás da arte e suas nuances, observando, sobretudo, os impactos emocionais traduzidos por essa diversidade.


Pode ser utilizada independentemente da idade e do nível socioeconômico e cultural. Através dela, temos a representação simbólica de traços emocionais, intelectuais e espirituais, característicos de um grupo social numa sociedade. Potencializa a criatividade, o raciocínio e, sobretudo, auxilia na solução de problemas.


Vai muito além de desenhar, pintar, dançar etc.; um turbilhão de emoções caminha junto com aquilo que, num primeiro momento, pode parecer alguns parcos rabiscos.


Vocês já observaram as bienais de arte? Perceberam o simbolismo das obras? O sentido que vem por trás daquele que elabora e também o impacto para quem olha?


As marcas culturais estão presentes o tempo todo, e isso é incrível! Do mesmo modo que dizemos que o “corpo fala”, posso assegurar firmemente que “a arte fala e cala”.


Quando, na correria de São Paulo, vemos em meio ao trânsito frenético grafites e grafites, tentem olhar mais amiúde e descobrirão pedidos de socorro, questões alusivas a aspectos sociais e políticos retratados de forma absolutamente simbólica. É uma forma de comunicação que, às vezes, passa despercebida, mas que merece ser vista de frente.

Leon Bonaventure (padre belga e psicólogo junguiano, falecido em 2021) coloca sabiamente:


“Na busca de sua alma e do sentido de sua vida, o homem descobriu novos caminhos que o levam para a sua interioridade: o seu próprio espaço interior torna-se um lugar novo de experiência.”


Na arteterapia junguiana, o psicólogo acompanha a pessoa nesse caminhar para a autorrealização, com ênfase na arte; dialogando com seu inconsciente e traçando sua realidade. Jung foi um conhecido psiquiatra e fundador da psicoterapia analítica, da Suíça (1875-1961).


Nise Magalhães da Silveira (1905-1999), psiquiatra brasileira, foi a primeira a utilizar a técnica de arteterapia para tratar de forma humanizada pacientes com transtornos mentais, contrapondo-se à realidade da época, na qual eram utilizados o eletrochoque e a lobotomia, que tirava o senso crítico dos pacientes através da aplicação de choques e atos cirúrgicos.


Digamos que foi uma época de horrores, que só aqueles que passaram por essas situações poderiam narrar as atrocidades advindas de tais métodos.


Na atualidade, existe a eletroconvulsoterapia, com parâmetros controlados e rigorosos, sob anestesia e, via de regra, só é utilizada para quem não responde a fármacos convencionais. Esse tratamento está longe daqueles implementados no passado e é bem aceito.


Nossa querida Nise tornou-se conhecida mundialmente, deixando um legado no Museu de Imagens do Inconsciente que, inaugurado em 1952, se mantém até hoje no Rio de Janeiro. Tive a honra de conhecer o local há mais de 30 anos e saí de lá reconfortada em ver a evolução de pacientes esquizofrênicos, a partir do momento em que chegavam até anos

apresentando leveza em suas obras e na receptividade de quem os visitava.


Na minha vida profissional, nunca esqueci o quanto esses pacientes me ensinaram sobre como, além da patologia, se bem direcionados, podem se tornar pessoas muito melhores.


A sociedade os rotula de “loucos”, e eu os vejo como pessoas que conseguiram uma evolução incrivelmente grande, com métodos adequados, respeito ao próximo, sem deixar de lado o uso medicamentoso regular.


E falando de superação, vocês já ouviram falar da Orquestra Sinfônica Heliópolis (OSH)? É simplesmente a primeira orquestra no mundo que surgiu em uma comunidade. Se passarmos pelo local, logo cedo veremos talentosos e disciplinados jovens que, mesmo em situação de vulnerabilidade econômica e social, fazem toda a diferença. Exemplo digno de resiliência. A formação de nível avançado do Instituto Bacarelli (1996) é o principal núcleo artístico da instituição. Vale a pena divulgarmos!


Mas a arte vai adiante (em diversos formatos); na atualidade, muito se fala em arte digital e jogos eletrônicos, além, claro, das clássicas: música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura, cinema, fotografia, história em quadrinhos e outras.


Neste artigo, estamos apenas dando uma visão geral dos tipos mais comuns, mas não posso deixar de citar um trabalho que acompanhei com uma arteterapeuta junguiana, na Unifesp, há muitos anos.


Ela utilizava a argila como manifestação das perdas gestacionais contínuas em ambulatório obstétrico de alto risco. Os resultados foram surpreendentes, os conteúdos emocionais emergiam, eram trabalhados e muitas dessas mulheres conseguiram realizar o sonho de gravidezes bem-sucedidas. Claro que era associado à equipe médica e de enfermagem capacitada para tal. É a arte transformadora capaz de gerar muitos outros frutos.


Vamos agora pensar na pérola: a ostra sofre uma ferida, um desafio, um empecilho, uma doença, um trauma etc. Precisará passar por um processo de burilamento de molusco até transformar essa ferida numa joia.

Assim somos nós na vida: nada linear, nada redondinho. Às vezes estaremos num emaranhado, noutras mais equilibrados. Mas o processo é sempre ascendente. Já ouviram falar que despertamos mais pela dor do que pelo amor?


E ainda bem que é assim. De que vale passar pela vida como se nada houvesse, fugindo dos problemas, fingindo ser feliz?


Vou citar uma passagem escrita em meados de 1935, num álbum de recordações, que transcrevo abaixo:

Por Francisco Otaviano, poesia escrita no século XIX:


“Quem passou pela vida em branca nuvem e em plácido repouso adormeceu. Quem não sentiu o frio da desgraça. Quem passou pela vida e não sofreu. Foi espectro de homem - não foi homem, Só passou pela vida – não viveu.”


No século XIX, em 1935 e na atualidade, isso é o retrato de nossas vidas. Se pudermos buscar técnicas que nos ajudem a suportar desafios, teremos grandes ganhos e uma infinita vivência. A arte pode ser uma ferramenta fundamental nesse processo. Pode, ainda, ser um ganha-pão para algumas famílias que tecem, fazem tricô, crochê juntas e têm os seus próprios proventos.


Via de regra, há um aumento de autoestima, e aproveito para conceituá-la: “saúde mental e emocional através de valorização pessoal. Fornece resistência, força e capacidade de regeneração. A forma com que me vejo pode potencializar a criatividade e a autoconfiança.”


Via de regra, há um aumento de autoestima e aproveito para conceituá-la: “saúde mental e emocional através de valorização pessoal. Fornece resistência, força e capacidade de regeneração. A forma com que me vejo, pode potencializar a criatividade e autoconfiança”.


Vou dar um exemplo: Vocês já observaram as danças de rua? A sagacidade, o gingado, a descontração dos jovens, mostram uma liberação sadia dos sentimentos, se expressam livremente e demonstram uma boa e saudável autoestima.


Mesmo que em meios artísticos mais tradicionais, como aqueles que aprendem a tocar e cantar em conservatórios musicais, ainda assim, há disciplina, técnicas próprias, respiração apropriada (para o canto), muitos ensaios e muito contentamento nas apresentações.


A cultura de cada canto interfere diretamente no tipo de arte. Se observarmos a cultura indígena, na sua raiz, traz peças que foram aprendidas pelos seus antepassados, sem perder o encanto.


E o carnaval? Já perceberam a garra e a dedicação das costureiras, que fazem fantasias lindíssimas, que deixariam qualquer nobre do Século XIV morrer de inveja, pela suntuosidade das peças? São verdadeiras obras de arte.


Se lembrarmos dos grandes escritores, vemos a beleza na escrita, fazendo-nos imaginar situações, épocas, etc. Nada mais elegante do que pegar um bom livro e nos deleitarmos.


E a escrita na música? Composições tão belas que nos fazem “voar”, pela letra, ritmo, formosura.


Escrever é ato de amor e é de uma expressividade infinita. Nós, da ConQuistaH, lançamos um livro há pouco tempo, voltado a pessoas com deficiência.


Sabe qual foi a sensação das 4 autoras? Alegria pela oportunidade, leveza no tema, compromisso com as pesquisas, instrução, educação, orientação.


Olha o nome: “O Caminho a seguir – Como agir frente a uma pessoa com deficiência”.

E penso nos nossos próprios caminhos, quais que desejo para a minha vida e como a arte pode ajudar nesse trajeto.


Nossa imagem é constituída desde a infância; quão importante sedimentarmos na criança o estímulo a amar as primeiras letras, a cantar, a dançar. Não é só bom em termos físicos, é também ótimo para a mente.


E cada qual com seus talentos e possibilidades, vai a cada dia se auto- superando.

Freud, que faleceu em 1939, médico austríaco e criador da Psicanálise, comenta que, no processo de sublimação, podemos trabalhar traumas, transformando saldos negativos em positivos. Que tal usar a arte nesse meio?


E para encerrar, vou citar Salvador Dalí, que faleceu em 1989. Surrealista, irreverente, abusava dos excessos de detalhes e da cor dourada. Era extravagante e excêndrico.


Retratava seus sonhos, com uma sutileza muito própria.


Propositalmente, pus a imagem de uma de suas obras, que julgo uma perfeita retratação de sentimentos inconscientes.


E aí vai uma pergunta: Como a arte lhe inspira?

Deixo como reflexão final.

Pense nisso...

A decisão é nossa! Só nossa!

 
 

Comments


Atendimento

Rua Conceição Veloso 84

Vila Mariana - São Paulo/SP

Seg - Sex: 8:00 - 21:00

​​Sábado: 8:00 - 15:00

(11) 11 5579-6686
Envie Whastsapp (11) 98904-5112
Mídias Sociais
  • Facebook
  • Instagram
  • Linkedin
sympla-logo.png
crp-sp-logo-png3.png

© 2020 Conquistah Consultoria Psicológica 3468- CRP 06/8377/J  :: Feito com ♥ pela Conquistah Consultoria psicologica::

bottom of page