Expectativa X Esperança
- Gabriella Sperati
- 29 de jun.
- 5 min de leitura
Por Ana Paula Aquilino
CRPSP 20694
Parceira ConQuistaH Consultoria Psicológica

Hoje quero falar com você sobre a diferença entre esses dois estados: esperança e expectativa. Vale dizer, logo de início, que tanto um quanto outro são saudáveis e fazem parte da vida. Que delícia a expectativa em relação a uma festa, uma viagem... Vale dizer, também, que a separação que vou fazer aqui é muito mais para diferenciar atitudes que as pessoas podem ter em relação a algo que está por vir, do que uma visão conceitual sobre o que sejam, de fato, expectativa e esperança.
Vamos lá: como você lida com os imprevistos da festa ou da viagem (sempre acontecerão alguns) que tanto esperava? Você se sente preparado(a) para eles? Às vezes, o que é inesperado pode deixar marcas emocionais, com consequências desagradáveis, caso acredite que tudo deveria acontecer exatamente como planejado por você e dentro das suas expectativas. Essa visão interfere diretamente nas nossas relações e no meio em que vivemos.
Vamos, então, falar sobre as diferenças importantes entre esses dois estados emocionais “pré-eventos”. Em meu trabalho psicoterapêutico, abordo muito esse tema, uma vez que as pessoas podem sofrer mais ou menos, dependendo da visão que escolhem ter sobre fatos futuros.
A principal diferença entre expectativa e esperança reside na incerteza e no grau de crença na ocorrência de um evento. A expectativa é uma crença firme de que algo irá acontecer, podendo ser baseada em suposições ou probabilidades, enquanto a esperança é um sentimento que envolve desejo e otimismo em relação a um futuro positivo.
Expectativas podem ser, muitas vezes, rígidas e controladoras; a esperança, em geral, é algo mais fluido e aberto ao desconhecido.
Como citei acima, ter expectativas faz parte da vida de uma forma positiva. Porém, vou focar aqui nas expectativas construídas sobre o poder sobre o que está para acontecer, ou seja, sobre as expectativas ilusórias. Por que ilusórias? Porque nunca se tem total controle sobre os fatos! São essas que trabalho muito com pacientes. Vamos entendê-las melhor.
Expectativas ilusórias: O que são e como podem nos impactar
Em geral, estão ligadas a uma visão concreta de futuro, algo que achamos que está sob nosso controle e vai acontecer de qualquer forma - ou que consideramos lógico que aconteça. Estão ligadas a crenças sobre como as coisas deveriam ser ou acontecer. Essas crenças podem vir de influências externas, como o que a sociedade espera de nós ou dos outros, ou até mesmo de nossa própria visão de futuro.
No entanto, essa certeza de que algo acontecerá do jeito que entendemos que deveria, nem sempre leva em consideração a realidade efetiva, com todos os elementos envolvidos.
Por exemplo, na expectativa de uma promoção, posso estar levando em conta o meu tempo de empresa, a minha formação ou um projeto bem-sucedido que entreguei, mas não levo em consideração a possibilidade de a empresa não ter os recursos necessários para isso, a capacidade dos meus colegas também avaliados para essa ocasião, os objetivos do setor. Em geral, fico focado(a) numa lógica que leva em consideração as minhas condições, mas não as de todo o contexto que me cerca.
Outro exemplo: o Dia dos Namorados está chegando e, como o casal já está junto há algum tempo, a namorada tem a expectativa de ser pedida em casamento no jantar planejado para a data. No entanto, o namorado planeja fazer o pedido somente no aniversário dela, meses depois. Como a expectativa dela não se concretiza na data esperada por ela, a relação pode ficar abalada (às vezes muito), podendo prejudicar a realização do que deseja, poucos meses depois.
Posso citar inúmeros exemplos para demonstrar que expectativas podem atrapalhar muito as relações em geral. Montamos um script que é só nosso e, como o outro não o tem, não dá as respostas que esperávamos.
Pessoas que colocam muita expectativa num futuro que não está só em suas mãos enfrentam frustrações, com consequentes sentimentos de inadequação – própria ou do outro - ou de fracasso.
Dependendo do perfil de quem teve a expectativa, a frustração pode gerar uma decepção consigo mesmo(a), achando que não foi bom o suficiente para alcançar o que queria (baixa autoestima), ou com a outra parte envolvida, que “nunca reconhece o merecimento” ou não faz o que “seria lógico fazer” (vitimismo/egocentrismo).
Além disso, expectativa num grau muito alto, gera ansiedade – que também pode acontecer num nível aceitável ou prejudicial.
Percebe a encrenca de se criar expectativas, em especial as ilusórias, que mantém, inadequadamente, todo o controle dos fatos nas mãos de alguém?
Em psicoterapia, trabalho muito este tema, pois, além de interferir de forma marcante nas relações em geral, pode gerar ansiedade, depressão, conflitos internos e externos, especialmente quando o indivíduo coloca sobre si uma grande pressão para que as coisas saiam de acordo com um plano rígido. É preciso ter em mente que nem tudo depende só de nós ou está totalmente sob nosso controle. Muitas vezes, é necessário empatia e uma visão mais ampla da realidade.
Esperança: confiança no processo, mesmo quando o futuro é incerto
Gosto de definir esperança como um estado de espírito otimista que se baseia na crença em resultados positivos, mesmo sem a garantia de que as coisas acontecerão como e quando desejamos. Implica menos certeza, mas sugere que acreditamos na possibilidade de algo bom acontecer.
A esperança não exige controle, mas sim uma abertura para o que virá, para a transformação, para a mudança, para a superação ou qualquer que seja o fato. Ela se baseia na ideia de que, apesar das dificuldades, há sempre boas possibilidades.
Esperança não exige controle, mas confiança em processos que estão além do nosso controle e compreensão. Acreditar em algo de positivo no futuro não significa ignorar dificuldades ou adversidades, mas nutrir a crença de que há chance de transformação, mesmo em cenários desafiadores.
Nos exemplos que coloquei acima para as expectativas, de alguma forma a pessoa não estaria tão envolvida em sua própria visão, e a consequência de não receber a promoção ou o pedido de casamento não criaria obstáculos para a continuidade das relações. Haveria resiliência no lugar da baixa autoestima, do vitimismo e do egocentrismo.
No trabalho psicoterapêutico, a esperança não é um sentimento passivo, mas um estado ativo de se abrir para novas perspectivas e se fortalecer internamente. Ela pode ser o alicerce para superar bloqueios emocionais e dar espaço para o crescimento. Porém, o sucesso nesse caminho depende muito do grau de egocentrismo e maturidade do paciente e pode levar algum tempo para que a pessoa faça a transição da expectativa ilusória para a esperança.
Gosto muito do conceito de Esperançar, de Paulo Freire, educador e filósofo:
“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo “esperançar”; porque tem gente que tem esperança do verbo “esperar”. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!”— Pedagogia da Esperança (1992)
Paulo Freire transforma esperança em verbo e traz a ação necessária para lidar com os desafios e obstáculos que podemos encontrar em nosso cotidiano. Esperançar envolve a postura que comentei anteriormente, de resiliência; envolve não se entregar; envolve continuar apesar de não ter conseguido na hora que eu queria, do jeito que eu queria, que eu achava que tinha que acontecer. Significa juntar forças, pois ainda posso conseguir, ainda posso chegar à mudança necessária, à meta que revi e decidi manter, guardando as devidas alterações que se fizerem necessárias.
Ter a capacidade de esperançar é ter forças, apesar de tudo que pode não ser do jeito que quero.
E você, tem mais expectativas ou esperanças?
A escolha é sempre nossa!
ConQuistaH Consultoria Psicológica
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