Por Eliana Aparecida Conquista
CRP SP 42.479
CEO Conquistah Consultoria Psicológica
Narciso. Pintura de Caravaggio (1594-1596). Galeria Nacional de Arte Antiga, Roma.
ORIGEM DA PALAVRA “NARCISISTA”
Narcisista é a pessoa que nutre amor excessivo por si próprio e/ou a sua própria imagem; aquele que se idolatra, excessivamente vaidoso. A palavra tem origem na Mitologia Grega.
Narciso, um belo rapaz, desprezou todas as ninfas. Uma delas, que tentara seduzi-lo e não obteve sucesso, implorou vingança aos deuses para que Narciso um dia viesse a saber o que era o amor não correspondido. A deusa da vingança ouviu as preces da ninfa.
Na floresta havia uma fonte de água pura e cristalina, na qual não havia folhas e nem galhos caídos das árvores. Nem mesmo os pastores levavam os rebanhos para beberem água dessa fonte.
Um dia, Narciso, cansado da caçada que empreendia, debruçou-se sobre a fonte para saciar a sede, viu sua própria imagem e imaginou que fosse o belo espírito das águas que habitava aquela fonte. Ele se pôs a olhar admirado para os olhos brilhantes e o belo rosto que via refletidos na água. Apaixonou-se por si mesmo.
Baixou os lábios para dar um beijo na figura e mergulhou os braços na água para abraçá-la, mas ela fugiu com o contato dele na água ligeiramente revolta. Quando a água se acalmou, a imagem voltou e Narciso continuou a admirá-la.
Fascinado com a imagem, Narciso esqueceu-se da sede e do cansaço. Contudo, sentia-se desprezado por cada vez que se aproximava dela, o vulto se desfazia e desaparecia diante dele. Desesperado, Narciso disse à imagem:
– Por que me desprezas, belo ser? Não é possível que te cause repugnância, pois as ninfas me amam e adoram. Estranho que, quando te estendo os braços, tu fazes o mesmo; quando sorrio, tu respondes com outro sorriso e respondes aos meus acenos com iguais acenos.
Narciso chorou, e suas lágrimas caíram na fonte, turvando a imagem.
Narciso foi se consumindo pelo amor à imagem que não correspondia a seu amor e nem lhe permitia aproximar-se dela. Perdeu a beleza e o vigor, até que morreu depauperado. Acaba por se converter numa flor linda e malcheirosa.
“Narcisista” passou, então, a significar, a pessoa que ama a própria imagem acima de tudo. A lenda de Narciso é uma das mais conhecidas da Mitologia Grega e ensina que o excesso de vaidade e a falta de empatia prejudicam a pessoa que se consome nela e por ela mesma, que se gaba de ser charmoso(a), que está apaixonado(a) por si próprio(a) e que cuida demasiado da sua imagem.
O Narcisismo é uma conduta ou uma mania típica do Narciso, é a complacência excessiva na consideração das faculdades próprias. O conceito foi desenvolvido pelo austríaco Sigmund Freud, pai da Psicanálise, e engloba uma série de características da pessoa, relacionadas com a vaidade e o ego. Estas propriedades podem levar o narcisista a ter dificuldades a integrar-se na sociedade.
No mito de Narciso, por ser um jovem de beleza singular, desperta paixões em deuses e mortais. Porém a questão de suma importância aqui, é que ele não corresponde às paixões por ser incapaz reconhecer a outrem e de amar.
Fazendo uma ligação entre o transtorno e o mito que inspirou seu nome, o narcisismo se configura em um indivíduo que se preocupa em ser grandioso. É exibicionista, tem um sentimento de indiferença com o próximo, não tem empatia, além de possuir dificuldade de se relacionar com outras pessoas.
Na Psicologia do Desenvolvimento, as crianças podem exibir tendências narcisistas. Pode ser apenas uma indicação de sua idade e própria do seu estágio de desenvolvimento. Não significa, necessariamente, que irá exibir um comportamento narcisista mais tarde na vida.
Na verdade, a criança pequena é narcisista e acredita que pequenas realizações são importantes. Embora seja bom que os pais desfrutem desse narcisismo apropriado para a idade, torna-se importante, nos últimos anos, ajudar crianças mais velhas a reconhecer e administrar o fracasso.
Em suma esta é a forma mais básica acima citada, o narcisismo pode ser considerado uma parte normal do desenvolvimento pessoal. Desde cedo, o ser humano precisa cultivar a autoestima e a autoconfiança.
Todas as pessoas têm certos níveis de narcisismo, pois é uma dimensão que existe em um continuum. Ou seja, cada indivíduo pode ter características narcísicas em maior ou menor grau.
Vale destacar alguns traços: considerar-se muito importante; não aceitar críticas; ter um senso desmedido de seu próprio sucesso; ter necessidade de ser admirado.
Diante disso, o narcisismo pode ter diversos efeitos negativos na vida cotidiana das pessoas afetadas e daqueles ao seu redor. Indivíduos com narcisismo frequentemente buscam dominar conversas, monopolizar a atenção e menosprezar os sentimentos dos outros.
Isso pode criar dificuldades nas relações interpessoais, prejudicando a qualidade das amizades, parcerias românticas e relações familiares. Por outro lado, podem ser extremamente sensíveis à crítica e rejeição, o que pode levá-las a evitar situações sociais ou a ter dificuldade em lidar com feedback construtivo. A busca constante por validação também pode resultar em comportamentos autodestrutivos, como dependência de substâncias ou envolvimento em relacionamentos abusivos.
As relações interpessoais são particularmente afetadas pelo narcisismo. Amigos, parceiros e familiares de pessoas com esse transtorno, muitas vezes se sentem esgotados emocionalmente devido à necessidade constante de atenção e validação do narcisista.
A falta de empatia e a incapacidade de reconhecer os sentimentos alheios podem gerar conflitos recorrentes.
No entanto, quando o narcisismo é levado ao extremo e se torna um padrão rígido e desadaptativo de comportamento e traço de personalidade, pode ser diagnosticado como Transtorno de Personalidade Narcisista. Nesse caso, as características são mais pronunciadas e afetam mais significativamente a vida e as relações interpessoais da pessoa.
Pessoas com o Transtorno Narcisista podem sofrer de depressão e ansiedade, pensamentos ou comportamento suicidas, uso indevido de drogas ou álcool e problemas de saúde física.
As pessoas com esse transtorno têm níveis elevados do hormônio do estresse cortisol. Altos níveis de cortisol podem ter sérias implicações para a saúde, incluindo aumento do risco de pressão alta e doenças cardíacas.
O Transtorno de Personalidade Narcisista é mais comum em homens que em mulheres. Muitas vezes pode se transformar em Transtorno na adolescência ou no início da idade adulta.
Embora as causas do Transtorno de Personalidade Narcisista ainda não são sejam exatas, muitos profissionais da saúde mental acreditam que ele resulta da combinação de fatores que podem estar relacionados a: genética — características hereditárias; meio ambiente — desencontros nas relações com os cuidadores na infância (dedicação exagerada ou crítica excessiva); neurobiologia — a conexão entre o pensamento e o comportamento que envolve o temperamento e a capacidade de gerir tensões
Sua busca por reconhecimento não se baseia em uma verdadeira autoestima ou autoconfiança, mas na necessidade de reafirmar seu próprio valor.
Pessoas narcisistas usam uma fachada de confiança e superioridade para se proteger de sentimento de insegurança e vulnerabilidade. Essa defesa permite que elas mantenham uma boa imagem de si mesmas e evitem enfrentar suas próprias limitações e deficiências.
Ao contrário dos traços narcisistas comuns, o Transtorno de Personalidade Narcisista é mais inflexível e prejudicial. O foco principal nos relacionamentos é o benefício próprio, sendo que tendem a causar muitos danos aos que lhe cercam. Eles consideram as pessoas ao seu redor como súditos e reagem de forma agressiva ou defensiva a críticas ou falhas.
Contudo, é fundamental ter em mente que nem todas as pessoas com traços narcisistas desenvolvem um transtorno de personalidade. A maioria dos indivíduos pode apresentar certos comportamentos ou atitudes em momentos específicos, mas isso não significa que elas preencham os critérios diagnósticos para o transtorno.
Diagnóstico e tratamento do Transtorno de Personalidade
Narcisista
O diagnóstico e o tratamento desse Transtorno são feitos por Psicólogos, por meio de sessões psicoterápicas. Os desentendimentos nos seus relacionamentos, que acabam por não se manter, criam frustrações e dores emocionais relevantes. Somente a partir dessa dor, o narcisista pode se permitir aceitar alguma ajuda. A psicoterapia vai ajudar a pessoa a desenvolver estratégias para se relacionar melhor e manter os relacionamentos.
Conclusão:
O narcisismo é um transtorno de personalidade complexo que pode ter efeitos profundos na vida cotidiana das pessoas afetadas e de seus entes queridos. Reconhecer os diferentes tipos de narcisismo e suas causas é o primeiro passo para lidar com esse problema. Através de terapia e autoconscientização, é possível criar mudanças positivas e construir relações mais saudáveis e significativas.
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