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Você é uma pessoa paciente?

Gabriella Sperati

Por Ana Paula Aquilino

Psicóloga – CRPSP 20.694

Parceira ConQuistaH Consultoria Psicológica


Hoje quero falar um pouco dessa qualidade que está tão em falta nas relações atualmente: a paciência. Digo isso afirmando essa falta. Você concorda comigo?


Será que sabemos o que é ter paciência? Será que a temos?


Ter paciência é aceitarmos o que o outro fala, sem responder à altura? Ou será que é tentarmos, persistentemente, mudar a visão do outro sobre algo? Será que tem a ver com não brigarmos com alguém que nos provoca por meio de ações e/ou palavras? Talvez seja utilizarmos de um tom não agressivo em nossas comunicações, ainda que não concordemos com o outro ou com a situação.


Ter paciência se aplica a diversas dessas situações, dentre outras, mas não necessariamente da forma como foi colocado acima.


Ao pesquisarmos a definição de paciência, encontramos fatores comuns em cada circunstância que envolve essa atitude.


Busquei diversas definições, com base na Psicologia e na Filosofia. Gostei, em especial, da seguinte, encontrada no site significados.com.br/paciência: “Paciência é uma virtude do ser humano baseada no autocontrole emocional, ou seja, quando um indivíduo suporta situações desagradáveis, injúrias e o incômodo de terceiros sem perder a calma e a concentração... é, principalmente, baseada na tolerância com os erros alheios ou diante de situações e fatos indesejados...  perseverança em relação a algo, como uma resposta, uma situação ou ação que, aparentemente, não tem previsão para se concretizar.”


Pela definição acima, temos algumas palavras-chave que nos facilitam a compreensão e a possibilidade de trazer para o cotidiano as situações que necessitam de paciência ou que a tornam impossível para algumas pessoas. Venha comigo e veja como você se sente em relação ao assunto.


Vejamos: autocontrole emocional; suportar situações indesejáveis/desagradáveis; não perder a calma e a concentração; tolerância com erros alheios; perseverança diante da falta de previsão na resolução ou concretização de algo.

Para cada um dos itens acima, precisamos de algumas características básicas na concretização da qualidade da paciência.


Uma das mais importantes é a empatia. Coloquei em um texto anterior sobre o assunto que, ter empatia é colocar-se no lugar do outro, com capacidade de levar em consideração os valores, os limites e as crenças que o outro tem. Não adianta me colocar no lugar dele, com meus próprios valores e crenças porque em nada vou ajudar ou chegar próximo de como ele está-se sentindo. Por exemplo, quando estamos com alguém que tem um ritmo de atuação, seja lá no que for, mais lento que o nosso. Ou, que não aceita algum caminho dentro de um objetivo por questões religiosas. Se não levarmos em consideração os limites e crenças das pessoas, certamente vamos nos irritar e perder a paciência.


Isso se aplica, também, a quando falamos sobre tolerância com relação a ações e comportamentos indesejados de alguém. Se eu não aceitar que somos diferentes, que vemos o mundo de formas diferentes, não vou aceitar o que o outro fala e faz. Meu julgamento vai me levar a reagir de forma irritadiça e agressiva, uma vez que não aceito o jeito do outro ser/pensar/se expressar.


E quando ansiamos muito por algo e não temos resposta sobre o prazo que isso será resolvido? Podemos realmente perder a paciência e construirmos situações com muita animosidade. Porém, nesse sentido, é preciso ver o que realmente está nas nossas mãos. O que efetivamente depende de nós e o que nos mantém na incômoda posição de impotentes diante esse prazo. Nossa paciência pode findar e estaremos nós, também aqui, numa condição de combatividade inútil.


Perder a paciência também está intimamente ligado a ter expectativas frustradas. Eu espero que as coisas aconteçam de uma forma e elas acontecem de outra. Ou, espero um tipo de atitude de alguém, e o que essa pessoa faz é diferente do que eu esperava.


E quando alguém realmente me provoca, afronta, desrespeita, desafia? O que pode representar a última gota d’água em relação a esse tipo de provocação? Logo na primeira já resolvo que “não levo desaforo para casa” e explodo ou aguento um tanto, antes de explodir, muitas vezes, com consequências bem negativas para mim, para o outro e/ou para o contexto como um todo?


Para falar sobre paciência, precisei falar sobre a perda dela ou sobre a impaciência. Dois extremos num continuum. E qual seria o centro desse continuum? Sem dúvida nenhuma, temos aí o controle emocional.


Mas controle emocional tem a ver com autoconhecimento e autoconsciência, ou seja, eu sei como sou, o que me faz feliz e o que me tira do sério, além de perceber as consequências de eu ser assim, para as pessoas e para o meio onde transito.


Sem esse domínio de conhecimento sobre mim mesma, não consigo construir o autocontrole emocional. Aqui, como sempre coloco, pode não ser tão fácil uma síntese, sem uma ajuda externa.


A psicoterapia tem esse objetivo, uma vez que, alcançando maior autoconhecimento/autoconsciência, temos benefícios para a saúde mental (menos estresse, melhoria a habilidade de lidar com desafios, dentre outros), para nossos relacionamentos (ajuda na empatia, promovendo compreensão e evitando conflitos desnecessários), em nossa produtividade (facilita o foco em soluções, permitindo que metas sejam alcançadas de maneira mais eficiente; foco nas soluções e não nos culpados).


O resultado é, sem dúvida, o aumento da capacidade de ser paciente no nosso dia a dia, respeitando mais a nós mesmos e aos que nos cercam.


Mas para quem não pensa em buscar a psicoterapia em breve, vou sugerir algumas atitudes a serem tomadas nos momentos em que a paciência pode ser perdida, ou que podem ajudar a desenvolvê-la.


Apenas esclarecendo um pouco mais sobre o processo da perda da paciência: determinados centros cerebrais passam a funcionar quando isso acontece, causando um aquecimento concreto desses centros. Por isso é tão comum ouvirmos falar sobre “respira fundo e conta até dez”. Com a respiração profunda, produzimos maior oxigenação cerebral, conseguindo, assim, baixar a temperatura desses centros cerebrais, trazendo maior possibilidade de controle emocional.


A respiração mais adequada é aquela em que você foca em soltar o ar, mais do que em puxá-lo. Não há necessidade de soprar o ar, apenas eliminá-lo totalmente, antes de inspirar mais ar. Essa é uma das práticas mais importantes nos momentos em que se pode perder a paciência e, portanto, de exercitá-la na prática, antes de estourar e dar uma resposta agressiva, por exemplo.


Inclusive, quando você respira fundo, controlando e prestando atenção nessa respiração, pode se propor algo mais racional, que não precisa ter a ver com a questão em si que está prejudicando sua paciência. Desta forma, consegue se desligar, se distanciar um pouco da situação, ganhando possibilidade de olhar de longe e ter maior clareza, sem se envolver tanto com a situação. É assim que você pode se blindar em relação às condições que tiram você do sério.


Na Comunicação Não Violenta – CNV (matéria sobre a qual pretendo trazer mais informações em breve), uma das formas de manter a paciência em relações sociais de diversos tipos, é a seguinte fala: “Quando você faz isso, eu me sinto assim. Como podemos fazer acontecer diferente?". Perceba que não há julgamento, não há acusações e nem culpas. Apenas a proposta de mudar algo que, para você não dá certo na forma como esse relacionamento acontece. Propõe solução e não confronto.


Às vezes, para praticar a paciência, precisamos mesmo de certo distanciamento imediato nas situações. Algo do tipo “vou tomar um ar e depois voltamos a conversar”; responder a uma mensagem depois de algum tempo e não de imediato, na impulsividade.

Outra reflexão importante diante de uma provocação, seja qual for, que se encaixe nas diversas situações já citadas, é a seguinte: “Isso realmente importa a longo prazo?”


Além das possibilidades que já coloquei, quero deixar um outro exercício que considero muito útil para desenvolver essa capacidade: “O Diário da Paciência”. Construa-o da seguinte forma:

⦁ Uma situação em que perdeu a paciência.

⦁ O que desencadeou isso.

⦁ Como reagiu e as consequências

⦁ Como poderia ter reagido de forma diferente.

⦁ Uma situação em que foi paciente.

⦁ O que contribuiu para sua calma.


Se você se dedicar a fazer esse exercício por alguns dias, certamente identificará padrões e estratégias que podem funcionar melhor para você.


É de extrema importância deixar claro que paciência não é tolerar abusos ou desrespeitos. Após algumas práticas sugeridas aqui, você terá condições de estabelecer limites mais claros sobre o que você aceita ou não.


E, se você se considera uma pessoa impaciente e não conseguir, por meio das dicas que deixei, tornar-se mais paciente, busque ajuda. Viver constantemente irritado(a), intranquilo(a) e intolerante com pessoas e situações traz incômodo e até sofrimento, principalmente para você mesmo(a).


Pense nisso! A decisão é sempre de cada um, buscar maior tranquilidade e bem-estar no dia a dia. E a paciência é um fator decisivo para o alcance desse objetivo.


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