Por Eliana Aparecida Conquista
CRPSP 42479
Diretora Executiva da Conquistah Consultoria Psicológica
Vamos iniciar o nosso artigo com vários significados da palavra amor:
No dicionário Aurélio:"...amor é descrito como um sentimento intenso de afeição, carinho, ternura e compaixão por alguém ou algo. É uma emoção que pode se manifestar de diversas formas e em diferentes contextos, seja no âmbito familiar, romântico, amizade ou até mesmo em relação a objetos ou atividades."
Amor na Grécia Antiga: por exemplo, o amor era dividido em diferentes tipos, como o amor filial, o amor fraternal e o amor romântico. Já na Idade Média, o amor cortês (idealização da pessoa amada e ideal de cortesia) era exaltado entre cavalheiros e as damas.
Vale destacar que, na Grécia Antiga, o conceito de amor foi objeto de estudo para os filósofos desde o início da civilização. O comediógrafo (humorista) grego Aristófanes definiu o amor como o maior sentimento que qualquer ser humano poderia experimentar. Por outro lado, a perspectiva de Platão diferia das conclusões de Aristófanes. Platão disse que, ao sentir amor, o ser humano entra em uma espécie de círculo vicioso, no qual ele busca, descarta e retorna a esse sentimento repetidamente.
Os gregos antigos tinham uma visão muito mais ampla e complexa sobre o amor do que a maioria de nós tem hoje em dia. Para eles, o amor não era apenas uma emoção, mas sim um conjunto de diferentes tipos de sentimentos e relacionamentos.
Segundo eles, existem 10 tipos de amor, cada um com seu próprio significado e importância:
O amor Philia é fraternal, baseado na amizade e na camaradagem. É o tipo de amor que surge entre amigos próximos, colegas de trabalho e familiares.
O amor Ludus é lúdico e brincalhão, caracterizado pela leveza e diversão. É o tipo de amor que se manifesta em relacionamentos mais descontraídos e descompromissados.
O amor Pragma é prático e duradouro, baseado na compatibilidade e na construção de um relacionamento sólido ao longo do tempo. É o tipo de amor que se desenvolve a partir do convívio e da convivência diária.
O amor Philautia é o amor próprio, fundamentado no respeito e na valorização de si mesmo. É o tipo de amor que nos permite cuidar de nossa saúde mental e emocional, priorizando o nosso bem-estar.
O amor Storge é o amor familiar, marcado pelo carinho e pela dedicação aos membros da família. É o tipo de amor que se desenvolve a partir dos laços de sangue e da convivência cotidiana.
O amor Mania é o amor obsessivo e possessivo, caracterizado pelo ciúme e pela insegurança. É o tipo de amor que pode ser prejudicial, pois sufoca e controla a outra pessoa.
O amor Ágape é o amor desinteressado, altruísta e incondicional. É o tipo de amor que visa o bem-estar do próximo, sem esperar nada em troca.
Cada tipo de amor influencia as nossas relações e a forma como nos conectamos com o mundo ao nosso redor.
Identificar qual é o seu tipo de amor predominante pode ser uma forma de compreender melhor as suas emoções e os seus relacionamentos.
Já para a Psicologia, temos alguns precursores para a palavra amor:
Erick Fromm (1966): Pode-se distinguir dois tipos de amor: o verdadeiro amor, identificado como uma atividade, caracteriza-se por cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento; o falso amor, por sua vez, é baseado em submissão, passividade, dotado de contornos neuróticos. O amor como atividade é o amor maduro, que, levando a romper e superar o sentimento de isolamento, permite preservar a própria integridade e individualidade. Por trás do amor-passividade está a união simbiótica, em que a pessoa foge do sentimento de isolamento e separação tornando-se parte de outra pessoa, que a dirige e protege. Essa submissão implica em dependência e falta de integridade.
Maslow (1974): Baseia sua teoria no aspecto de precisar, enfatizando o amor como uma necessidade de algo a ser preenchido. Faz, entretanto, uma distinção entre dois tipos possíveis de amor: o primeiro, baseado nas necessidades de deficiência, que seriam as biológicas, de segurança, de amor, pertença, relativas à autoestima; o segundo, baseado nas necessidades relativas ao ser, que sejam as intelectuais, estéticas, de autorrealização. O amor na deficiência é autocentrado, egoísta, fragmentado. O amor nas necessidades é altruísta, não possessivo, mais admirador, proporciona maior prazer e resulta na aceitação do próprio eu.
Rubin (1973): Explora os conceitos de gostar e amar, vistos de forma independente. A partir de tal estudo, o autor identificou como componentes do amor o precisar do outro, os cuidados para com ele e a presença da intimidade, envolvendo a confiança e a proximidade.
Hatfield (1988): Encontramos a teoria que distingue dois tipos de amor: apaixonado e companheiro. O amor apaixonado é descrito como um estado de intenso desejo de união com outra pessoa, cuja reciprocidade confere êxtase e realização, ao passo que uma separação é sentida como vazio, provocando ansiedade ou desespero. Trata-se de um profundo despertar fisiológico. Relaciona-se a uma variedade de emoções fortes, tanto negativas quanto positivas, que podem se apresentar de forma intercalada. O amor companheiro, por sua vez, caracteriza-se por um processo de aproximação entre os indivíduos, explorando suas semelhanças e diferenças na maneira de pensar, sentir e agir. Assim, os parceiros apresentam desejo de se revelar um ao outro, compartilhando segredos, valores, fraquezas, esperanças. Também se verifica uma preocupação profunda e cuidados com o outro, bem como o conforto com relação à proximidade física.
Lee (1988): Desenvolveu a teoria denominada As Cores do Amor, em que tenta explicar o amor através de uma analogia com as cores. Parte do pressuposto de que, assim como nas cores, no amor também encontramos diversas variações, ou love-styles, deslocando o foco da questão do quanto duas pessoas se amam para quais cores do amor produzem uma boa combinação. Assim, o autor define três estilos primários de amor, quais sejam: eros, baseado no amor erótico, que geralmente inicia com uma grande atração física, em que os sujeitos se guiam por um tipo de pessoa ideal, abrindo-se mutuamente para o conhecimento; storge, ou amor companheiro, em que a afeição e o compromisso se desenvolvem gradativamente, não possuindo o sujeito um tipo ideal, mas procurando conhecer outras pessoas que apreciem as mesmas atividades de seu interesse e com as quais pode se unir; e ludus, em que o sujeito não possui qualquer tipo ideal, estando voltado para o prazer, o jogo sem compromisso. Os amantes lúdicos são pluralistas, mas costumam ser honestos quanto a isso.
Sternberg (1989): Desenvolveu a denominada Teoria Triangular do Amor, que consiste, atualmente, em um dos mais completos estudos sobre o amor. Segundo o autor, três são os componentes do amor: intimidade, paixão e decisão/compromisso.
A intimidade refere-se aos sentimentos vivenciados dentro de uma relação que promovem o vínculo entre os membros do casal, distinguindo a presença de dez elementos: o desejo de promover o bem-estar da pessoa amada, o sentimento de felicidade junto a ela, o respeito por ela, a capacidade de contar com a pessoa amada em momentos de necessidade, o entendimento mútuo que se estabelece entre os parceiros, entregar-se e dividir as posses com o parceiro, receber apoio emocional da pessoa amada, prover-lhe apoio, comunicar-se intimamente com ela e valorizá-la.
A paixão consiste, em grande parte, na expressão de desejos e necessidades, tais como necessidades de autoestima, entrega, submissão e satisfação sexual.
O componente decisão/compromisso tem dois aspectos, um a curto e outro a longo prazo. O aspecto a curto prazo é a decisão de amar outra pessoa, ao passo que o de longo prazo é o compromisso em manter esse amor. Tais aspectos não ocorrem, necessariamente, de modo simultâneo. A decisão de amar não implica em estabelecer um compromisso por esse amor, bem como o inverso também é possível, como quando o compromisso por uma relação se estabelece sem o acordo de um dos parceiros, casos de matrimônios arranjados, por exemplo. No entanto, ainda que a decisão/compromisso possa carecer da carga de intimidade e paixão, é o componente que, em última instância, mantém a relação.
A partir da combinação desses três componentes, Sternberg (1989) caracteriza diversos tipos de amor que podem ocorrer. Assim, presente somente o componente intimidade, o amor se caracterizará pelo carinho, sem a paixão ou comprometimento, situando-se muito próximo à amizade. A presença exclusiva do componente paixão, por sua vez, dá origem a uma relação em que predomina o alto grau de despertar psicofisiológico, podendo tanto surgir como se dissipar instantaneamente. O amor baseado somente no elemento decisão/compromisso é o denominado amor vazio, que pode ser visto naquelas relações em que a intimidade e a atração física já deixaram de existir.
Shackelford e Buss (1997) sustentam que, sob uma perspectiva psicológica evolutiva, a satisfação ou insatisfação conjugal podem ser vistas como estados psicológicos que trilham os benefícios e custos globais associados a uma união marital em particular. Uma aliança conjugal é uma união reprodutiva forjada por aproximadamente todos os homens e mulheres ao redor do mundo. O casamento implica vários e variados desafios adaptativos, alguns específicos a determinado sexo, mas muitos deles enfrentados tanto por homens quanto por mulheres. Tais problemas adaptativos não são estáticos, mas mudam conforme o contexto flutuante que se verifica ao longo do casamento. É o contínuo sucesso na resolução dos problemas adaptativos que produzem estados de relativa satisfação marital, felicidade e contentamento.
Para os autores acima, através das culturas, as mulheres costumam valorizar capacidades aquisitivas e de trabalho e ambição em um esposo potencial. Já para os homens, a valorização maior recai na capacidade reprodutiva de uma esposa potencial, avaliada mediante critérios de juventude e atratividade física. Ambos os sexos, contudo, valorizam a inteligência, a generosidade e a confiabilidade no parceiro, mais do que quaisquer outros atributos.
Em uma perspectiva evolutiva, os autores predizem que a discrepância do valor dos parceiros está associada a uma insatisfação em ambos os membros do casal, produzindo ansiedade no parceiro menos valorizado quanto à possibilidade de que seu esposo ingresse em ligações extramaritais, em busca de alguém de valor comparável. O esposo de maior valor, por sua vez, também poderá expressar insatisfação, na medida em que os benefícios recebidos podem ser menores do que os custos de permanecer em uma relação, excluindo as possibilidades de outros relacionamentos possíveis. Os autores, contudo, salientam que, quanto maior a discrepância quanto à valorização do parceiro, maior a insatisfação para os homens, mas não para as mulheres, em seus casamentos, não se encontrando bem esclarecidas, no entanto, as razões de tal diferença.
Para Jung, a visão sobre o amor se difere daquele amor passional, romântico que escutamos geralmente. Mas é um amor como forma de Eros, um sentimento profundo que nos faz confrontar com nós mesmos e, a partir dele, podemos amadurecer e assim ampliar nossa consciência. É uma entrega de alma, um desejo de se melhorar e assim oferecer ao outro o seu melhor. Quanto mais eu me entrego, mais eu recebo.
Aliás, Jung reforça que o amor não combina com o poder. Assim, relacionamentos onde um quer possuir o outro, quer mandar mais, ter o controle, enfim, onde alguma relação de poder se constela, não existe o amor. Não se pode amar e querer que o outro seja submisso. É preciso olhar para o parceiro(a) como um outro igual, um companheiro de jornada que, com sua história, vai caminhar lado a lado com você. Assim, “ali onde predomina o amor não há vontade de poder, e onde há predominância do poder, não há amor. Um é a sombra do outro”. (JUNG, Sobre o Amor)
Segundo Jung:“Todo amor verdadeiro profundo é um sacrifício. Sacrificamos nossas possibilidades, ou melhor, a ilusão de nossas possibilidades. Quando não há esse sacrifício, nossas ilusões impedirão o surgimento do sentimento profundo e responsável, mas com isso também somos privados da possibilidade da experiência do amor verdadeiro.”
Após definir o amor no dicionário, na Grécia Antiga e em vários precursores da Psicologia, vamos continuar o nosso artigo definindo a palavra paixão. No dicionário Aurélio: é um sentimento intenso e arrebatador que pode ser direcionado a uma pessoa, atividade, causa ou objeto. É uma emoção que desperta um interesse profundo e uma dedicação apaixonada. A paixão é capaz de impulsionar as pessoas a agir, a perseguir seus objetivos e a buscar a felicidade.
No âmbito emocional, a paixão está associada a um amor intenso e avassalador, que pode causar uma sensação de euforia e êxtase. Já no contexto profissional, a paixão está relacionada a uma forte motivação e entusiasmo pelo trabalho, o que pode levar a um maior comprometimento e excelência nas atividades desempenhadas.
Vamos, então, entender através da Psicologia como acontece a paixão amorosa, que é um dos tipos mais conhecidos e intensos de paixão. É caracterizada por um sentimento de atração e desejo intenso por outra pessoa, que pode levar a uma entrega total e uma busca incessante pela felicidade ao lado do ser amado. A paixão amorosa pode ser avassaladora e, muitas vezes, é acompanhada por sintomas físicos, como palpitações, suor excessivo e “borboletas no estômago”.
Pode trazer uma série de benefícios para a vida das pessoas. Seja na área amorosa ou profissional, a paixão nos motiva a buscar a excelência, a superar obstáculos e a encontrar um propósito em nossa atividade. Cultivar a paixão requer dedicação e comprometimento, mas os resultados são gratificantes. A paixão nos proporciona uma sensação de plenitude, felicidade e realização, e contribui para o nosso crescimento pessoal e profissional. Portanto, permita-se apaixonar-se e viva intensamente essa emoção tão poderosa.
Será que saberemos quando é amor e quando é paixão e distinguir dentro de um relacionamento afetivo? Aqui vai um quadro bem esclarecedor sobre amor e paixão.
Ao reconhecer e equilibrar essas duas forças, é possível construir um relacionamento afetivo mais sólido e gratificante, onde ambos os parceiros crescem e prosperam juntos. Se você está navegando pelas complexidades de amor ou paixão, lembre-se de que ambos têm seu lugar e importância nas relações, e o equilíbrio entre os dois pode levar a uma vida amorosa mais plena e satisfatória.
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