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Adultização – o conceito é mais amplo do que estamos vendo atualmente

  • Gabriella Sperati
  • 31 de ago.
  • 5 min de leitura

Por Ana Paula Aquilino

CRPSP 20.694

Parceira Conquistah Consultoria Psicológica


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Introdução


Adultização é um termo que se refere ao processo pelo qual crianças e adolescentes passam a assumir responsabilidades, comportamentos, preocupações ou até aparências típicas de adultos, muitas vezes precocemente e de maneira inadequada à sua idade. O fenômeno tem se tornado cada vez mais visível e discutido, especialmente devido à influência dos meios de comunicação, mudanças familiares e pressões econômicas. Mas não se limita à sexualização precoce, como neste momento tanto se fala.


Para entendermos realmente o que acontece hoje, precisamos conhecer um pouco da história que envolve os conceitos de infância e adolescência. 


Ao longo da história, até a Idade Média, a criança era considerada um adulto em miniatura e, a partir dos sete anos de idade, já era integrada às atividades e responsabilidades da vida adulta. Crianças de ambos os sexos eram expostas e exigidas no cotidiano, conforme estereótipos culturais, aos mais diversos tipos de situações e contextos: trabalho, tipo de alimentação, de vivências, formas de vestir, assuntos presenciados. 


Com o passar do tempo, alguma diferenciação começou a acontecer, mas de forma sutil, sem a proteção devida à vulnerabilidade presente nesse período. 


Somente nos séculos XVII e XVIII, com o Iluminismo, a infância começou a ser valorizada como um período de inocência e aprendizado. A Revolução Industrial, por sua vez, levou à criação de leis para proteger as crianças do trabalho exaustivo nas fábricas, o que ajudou a solidificar a infância como uma fase a ser protegida.


Passou-se então, ao outro extremo, uma visão de que crianças não tinham opinião nem vontade. Não podiam participar de nenhuma ocasião junto aos adultos, não podiam opinar em nada e pouco se sabia sobre o desenvolvimento em si. Deveriam ficar em um mundo à parte, sem a mínima possibilidade de perceber contextos ou de se preparem para a vida adulta. 


Essa preparação acontecia na adolescência, que era entendida como um período apenas dedicado a essa preparação, sem uma diferenciação específica. Considerava-se que, a partir do momento em que a pessoa estava apta a reproduzir, estava “pronta” para o mundo adulto, com todas as suas responsabilidades. 


A ideia de adolescência, tal como a vemos hoje, iniciou-se ainda mais recentemente e foi construída principalmente no século XX


O Psicólogo G. Stanley Hall publicou o livro Adolescence em 1904, que descrevia essa fase como um período de "tempestade e estresse", sendo considerado um marco no entendimento dessa complexa fase. 


Vimos, portanto, que a adultização é um processo presente na história da humanidade e que, de diversas formas, é revivido. Só que, agora, somos esclarecidos sobre cada uma das fases de desenvolvimento em questão e a responsabilidade de não repetir a visão da Idade Média no século 21 é totalmente nossa.  


A adultização, na atualidade

A adultização é um processo e pode se manifestar de diferentes formas: nas atitudes, nas responsabilidades impostas, na sexualização precoce, na maneira de vestir ou mesmo no modo de falar.

 

Não é apenas uma questão de crianças aparentando serem adultas, mas principalmente de assumirem – sendo obrigadas e/ou convencidas -  o encargo de exigências e expectativas adultas. Adultização é, portanto, caracterizada por uma inversão de papéis sociais, na qual crianças ou adolescentes deixam de viver experiências próprias de sua faixa etária para responder a demandas e situações reservadas aos adultos.


Quero falar sobre mais um aspecto ao pensarmos em adultização: a maturidade neurobiológica. Esse tipo de maturidade diz respeito ao desenvolvimento natural das capacidades cognitivas, emocionais e sociais, que levam à atuação adequada para cada fase. Por exemplo: uma criança anda quando está neurologicamente madura para esse aprendizado e prática. Um adolescente consegue aprender a dirigir com responsabilidade quando alcança a maturidade neurológica para isso. 


A adultização envolve uma aceleração artificial desse processo neurobiológico, geralmente imposta por fatores externos. O amadurecimento saudável permite que a criança construa sua identidade de forma progressiva e segura; já a adultização pode gerar lacunas e traumas, pois falta o preparo emocional para lidar com situações próprias da vida adulta.


O fenômeno da adultização é multifatorial, resultante de uma combinação de elementos culturais, familiares, econômicos e midiáticos.


Em contextos de vulnerabilidade social, por exemplo, é comum vermos crianças que assumem tarefas domésticas, cuidados com irmãos mais novos ou mesmo atividades remuneradas para ajudar na subsistência familiar, deixando de vivenciar o tempo próprio da infância. Ao assumirem papéis adultos antes do tempo, essas crianças têm sua identidade construída de forma precária, muitas vezes carregando sentimentos de frustração, insegurança e inadequação ao longo da vida.


Uma das formas mais graves de adultização, se não for efetivamente a mais grave, é a sexual e acontece, em especial, com meninas, embora não só com elas. Ela se manifesta na cobrança por comportamentos sensuais, no incentivo ao uso de roupas provocantes e na exposição a músicas, danças ou tendências de comportamento inapropriadas para a idade. Isso pode trazer sérios riscos emocionais e físicos, inclusive facilitando situações de violência e abuso.


Crianças e adolescentes nessas condições, privadas das experiências essenciais de cada fase, podem apresentar quadros de ansiedade, depressão, baixa autoestima e dificuldade em estabelecer relações afetivas saudáveis durante o processo e na vida adulta. A sobrecarga emocional pode levar a transtornos psicológicos e até ao adoecimento físico. Caso tenha acontecido um abuso, fisicamente violento ou não, essas crianças e jovens levarão para a vida adulta o sentimento de culpa, uma vez que, em geral, são convencidos de que foram os responsáveis por causar o ato ou de terem tido o desejo de que acontecesse. Pode-se imaginar a intensidade das consequências emocionais e psicológicas disso. 


Além disso, aqueles que passam por esse processo podem ter dificuldades em se conectar com amigos da mesma idade, apresentar isolamento social ou buscar companhias de faixas etárias diferentes, justamente por não se identificarem com o universo infantil/adolescente.


Outro canal de adultização é a exposição constante a conteúdos midiáticos que valorizam padrões estéticos, consumismo e comportamentos adultos. Crianças são incentivadas a adotar roupas, maquiagens, linguagens e atitudes associadas a adultos, muitas vezes em busca de aceitação social ou visibilidade nas redes. Estimulam/criam o desejo de reconhecimento e sucesso instantâneo, a busca por “curtidas” e seguidores, por ídolos manipuladores que impõem padrões, muitas vezes inalcançáveis para essas faixas etárias.


São exigências que bloqueiam a expressão de autenticidade e espontaneidade, encobrindo características de personalidade que ainda não estão totalmente formadas, mas que estão latentes e não têm como se manifestar e florescer. Crianças expostas precocemente a esse universo digital podem internalizar padrões irreais e expectativas impossíveis, intensificando o processo de adultização.


Como combater, então, a adultização?

A responsabilidade é coletiva e envolve família, escola, comunidade, sociedade civil e poderes públicos.


Atitudes a serem tomadas: muito diálogo nos ambientes familiares e escolares; estímulo às atividades lúdicas como parte fundamental do desenvolvimento infantil; educação para crianças e adolescentes consumirem conteúdos de forma crítica, reconhecendo padrões prejudiciais e sabendo diferenciar realidade de ficção; divisão equilibrada de tarefas domésticas, evitando a transferência de responsabilidades excessivas; instalação de políticas públicas voltadas para o combate à exploração do trabalho infantil, à sexualização precoce e à violação de direitos.


Ufa!!! Há muito por fazer! Mas a boa notícia é justamente essa: há solução, existem caminhos a serem trilhados, soluções visíveis a serem buscadas, atitudes claras a serem tomadas. Não que seja rápido ou simples, mas temos clareza sobre os passos necessários e sobre quem precisa fazer o quê, dentro da própria família e na sociedade, numa visão coletiva.


Ah! Denúncias também são indispensáveis!  


Que bom! Isso já começou a acontecer!  Apenas começou...


 
 
 

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