Estamos em meio a uma nova realidade. Já não acordamos mais do mesmo modo, já não saímos de casa do mesmo jeito. A pandemia mudou nossos hábitos e costumes. Novos aprendizados e saberes; alguns deles bastante difíceis, outros nem tanto. Porém, uma caminhada que ainda não entendemos aonde vai dar.
Em meio a esse caos, nos reinventamos dia a dia; na mídia, informes de novas cepas surgindo ao redor do mundo e, ao mesmo tempo, as vacinações chegando, trazendo muita esperança - mas, igualmente, dúvidas quanto à eficácia e se agirão efetivamente frente as mutações do corona vírus.
Outrora, falávamos da Califórnia como um lugar de sonhos de muitos jovens; hoje, tragicamente, o sonhado lugar é citado como berço de nova variante do Sars-Cov-2, trazendo uma ameaça ainda mais letal e de transmissibilidade mais rápida. Além de outras mutações que vêm eclodindo no planeta, inclusive aqui no Brasil.
Até 12.02.2021 foram confirmados no mundo 107.423.526 casos de COVID-19 e 2.360.280 mortes; segundo a OPAS (Organização Pan Americana de Saúde) e a OMS (Organização Mundial de Saúde) no Brasil. Dados esses que nos fazem recordar da finitude da vida e de que nem sempre conseguimos “dar conta de tudo”. Nunca vimos tantas pessoas em orações, meditações e ligações com o “desconhecido” , fazendo-nos, portanto, refletir sobre o que somos e o que levaremos dessa vida…
Em alguns dos nossos artigos procuramos mostrar “saídas” e “reinvenções”, para que possamos manter o equilíbrio e permanecer o mais “imune possível”. Porém, não podemos deixar de lado o sofrimento daqueles que estão nos leitos hospitalares, na iminência da morte. E de tantos outros parentes, amigos e conhecidos, que mal conseguem se despedir de entes amados e queridos. Aliás, nem mesmo visitá-los. Recebem, às vezes, notícias angustiantes, passadas por médicos(as) cansados pelo labor estressante e pela ameaça muda do vírus que os cerca.
É quase impossível mantermos a vida como se “nada houvesse” e, aqueles que assim agem, negligenciam um bem maior, colocando-se em risco e, pior, propiciando aos que estão ao seu redor a transmissibilidade. Tal dado faz vir à tona um cenário muito triste, de jovens e adultos despretensiosos, que não abrem mão de sua liberdade, e que, muitas vezes, choram pela perda daqueles que mais amavam, sem sequer se ater a sua própria responsabilidade. E se a consciência acusar, imaginem a culpa subjacente desse ato…
Observamos que, há um ano atrás, havia um pseudoentendimento do vírus, muitas especulações e meias verdades. Interesses dos mais variados segmentos submergiram, cada qual em defesa daquilo que parecia mais adequado.
Havia uma sensação de que morriam pessoas lá do outro lado do mundo e que nada disso chegaria aqui. Enquanto não percebemos a real perda do nosso vizinho, do colega de trabalho, do amigo, até chegar ao nosso parente mais distante (e ao mais próximo), era como se fôssemos meros expectadores de um filme de ficção, no qual havia um herói que apareceria com seus poderes e aniquilaria o mal do vírus no mundo. Mas, de repente, não é mais Hollywood - é Brasil, é Manaus, é Araraquara, é São Paulo (opa! Capital!).
Uma legião de cientistas bravamente lutando pelas vacinas, pelos estudos, algo jamais visto! Incredulidade, indefinições... mas também muita gente do bem, se solidarizando e encontrando formas de lidar com tudo isso, inclusive com relação à morte e ao morrer.
Aliás, em “Sobre a Morte e o Morrer”, livro muito respeitado nos meios acadêmicos desde 1969, a finada Elisabeth Kubler-Ross fala dos 5 estágios pertinentes a pacientes terminais, quais sejam: 1. Negação e isolamento (mecanismo de defesa temporário do ego); 2. Raiva (revolta); 3. Barganha(busca de culpados); 4. Depressão (sofrimento profundo, medo, desesperança, culpa) e, finalmente, 5. Aceitação (fase que não nega a realidade). Nunca esse livro esteve tão presente!
Com a diferença de que, nem todas essas fases submergem mediante a um coma induzido, por exemplo. Na prática, a pessoa morre sem se dar conta do que houve. Tampouco seus entes queridos têm tempo para se prepararem, ficando à mercê de notícias a distância, passadas por médicos(as), cujo palavreado nem sempre é de fácil acesso ao leigo. Além de outras questões que permeiam fortemente a família e o seu cotidiano (relações pessoais, profissionais e financeiras).
Tivemos a oportunidade de acompanhar um jovem que, durante quatro longos meses, ouvia notícias pouco animadoras sobre um ente querido, entubado em hospital público. Até que a morte efetivamente acontecesse, uma mescla de emoções caminhavam juntas, desde o temor pela perda (como seria depois), esperança (tê-la ou não), acreditar no pós-morte (ou não), além de situações mais concretas: poderei fazer ao menos uma visita? Quando? Qual o meu risco? Quantas pessoas podem ir ao velório? Como informarei àquelas que gostariam de estar lá e não poderão? São sentimentos fortes e reais, que abalam a estrutura da vida de cada ente e da família, como um todo.
A ausência de um velório e enterro adequados tem dificultado a vivência saudável de uma perda. Algumas pessoas têm enviado condolências ou mensagens por videochamada (ou outros recursos da internet).Têm mantido contato com os familiares com certa constância, mas nem sempre presencialmente - o que também interfere nessa vivência. Muitos sentem falta daquele abraço amoroso e acolhedor. Esse pequeno gesto é simples, eficaz e alivia a dor da separação. Talvez possamos imaginar que estamos nos abraçando mutuamente, um passando força para o outro, como o caminho possível.
O que se sugere é tentarmos lembrar dos melhores momentos, das melhores risadas, das coisas boas que essas pessoas que partiram e que nos deixam saudades, marcaram em nossa trajetória. Se tinham filhos, netos, quais foram seus legados? Quem sabe escrever sobre isso? Pode deixar anotado o que lhes fazia bem.
Acreditamos que, de algum modo, aqueles que se foram ficariam felizes em saber que foram lembrados por tudo de bom que realizaram, pela família que constituíram e não pela ferocidade de um vírus.
Os entes queridos precisarão, aos poucos, organizarem-se em termos de papéis, documentos etc. Mas isso, passo a passo. Muitas vezes terão, ainda, que contar com a mão solidária de pessoas que tenham afinidade. Nessa hora é muito bom contar com mãos amigas. Em todo meio, sempre há aquele que ajuda; não se esqueçam que somos um povo solidário, com fé e com muita perseverança.
Pensem: se o seu ente querido estivesse vivo, gostaria de vê-lo chorando o tempo todo? Claro que a depressão reativa ao momento vai fazê-lo chorar muito, até que busque dentro de si, uma reação. Mas, e se fosse você que estivesse do outro lado? E se visse os seus bens se deteriorando, a família só se vitimizando, sequelas emocionais submergindo, sem um tratamento adequado? Como se sentiria? Calma! É só uma situação hipotética.
Talvez tenhamos até dificuldade em nos colocar no lugar daquele que já faleceu, tal é o enigma da morte e do morrer. Tal é a tristeza que paira no ar, frente a tantas perdas.
Mas esta Consultoria propõe enfrentamentos, não é verdade? Buscar dentro de si, recursos que mal sabíamos que existia. Deixamos aqui, uma breve reflexão sobre esse patamar atual. Todo caos ensina! Bons alunos seremos, se enfrentarmos tudo isso, imaginando que aquele que não está mais entre nós, preferiria, com certeza, ver-nos mais inteiros, menos despedaçados, apenas com SAUDADES! Tudo a seu tempo e com o tempo…
A decisão é nossa! Só nossa! Eliana Aparecida Conquista
Crp/SP 06/42479
Eliana Aparecida Conquistah Consultoria em Psicologia
CNPJ: 36.586.648/0001-39
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