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  • Gabriella Sperati

Empatia, você tem?


Você se considera uma pessoa empática? Será que você sabe o que é empatia? A clássica resposta “colocar-se no lugar do outro” deve ser prolongada por alguns parágrafos. É muito comum ouvirmos as pessoas falarem que sabem o que é e que têm muita empatia, pois vivem se preocupando em como ajudar nas diversas situações e relações de suas vidas. Vamos ver se isso é realmente verdade.


Para entendermos o significado, vamos olhar, primeiramente, para a palavra em si. Ela vem do grego e tem como sufixo a palavra “PATHÓS”, que traduzimos como doença ou sofrimento – o nosso e o do outro. É preciso levar em consideração, sempre, que o sofrimento é inerente à existência humana. Não há quem não passe por momentos ou períodos de alguma dor. A partir desse conceito, temos, na Língua Portuguesa, algumas derivadas: antipatia, apatia, simpatia e empatia.


Podemos dizer que essas palavras falam do grau do nosso envolvimento com o sofrimento do outro, ou do nosso sofrimento com base no do outro. Assim temos os seguintes adjetivos para identificar a capacidade de alguém nessa direção:


ANTIPÁTICO(A): é aquele que tem o olhar “contra a dor”. Não no sentido de lutar contra ela para melhorar a própria vida ou a da outra pessoa, mas sim no de não deixar essa dor incomodar. Assim, se o sofrimento alheio lhe atrapalhou o dia, mostra irritação e distanciamento porque perdeu alguns minutos do seu tempo. Não importa o quão aguda seja a dor alheia. Nem a própria. A questão aqui é não entrar em contato com nenhuma dor. Isso dá a essa pessoa aquele ar de distanciamento e arrogância tão comum quando usamos o adjetivo “antipático(a)”.


APÁTICO(A): é aquele que vê a dor, mas nada manifesta. É inerte a qualquer sentimento. Não há mobilização por um socorro. É capaz de permanecer frio diante da maior tragédia, impassível frente a qualquer lágrima derramada. Sobre esses dois primeiros: não significa que não sofram, mas que não demonstram ou negam tanto para os outros quanto para si mesmos, que isso está acontecendo.


SIMPÁTICO(A): É a pessoa que sente a dor do outro, mas não se envolve realmente para minimizá-la. É o olhar social para dor, aquilo que podemos chamar de ‘pena’ ou ‘dó’. Um conhecimento longínquo sobre o que o outro sente. Assim, temos simpatizantes de diversas causas, por exemplo. Talvez com doações. E temos os likes nas redes sociais, a uma distância que não permite aprofundamento ou contato real com o outro, o fato ou a questão discutida.


EMPÁTICO(A): é quem consegue “sentir junto”, como se a dor do outro fosse sua. Como a dor do outro também dói nele, faz de tudo para conseguir ajudar, para conseguir resolver o que quer que seja e que esteja ao seu alcance para parar a dor, diminui-la, amenizá-la ou interrompê-la.


Percebe que, nas definições acima, a proximidade com o sofrimento e o sofredor vai aumentando gradativamente? Vale ressaltar aqui, que estas diferenças entre os conceitos que coloquei até aqui são apenas referências para o entendimento e nem sempre há uma delimitação tão clara na atitude das pessoas.


E nem sempre as pessoas se manifestam da mesma forma com diferentes pessoas e tipos de sofrimento. De qualquer maneira, quando chegamos na empatia, não só estamos próximos ao sofrimento e ao sofredor, como tomamos uma ação para lidar, de alguma forma com a situação que o origina.


Então, a primeira pergunta foi: você acha que tem empatia? Vou querer saber sua resposta no final do texto, uma vez que vou fazer outras, até chegarmos lá, para que você possa construir sua visão a respeito de si mesmo(a) em relação a isso


A segunda pergunta foi: Você sabe o que é empatia? Talvez agora, depois de examinarmos melhor o termo, você consiga entender melhor, para poder responder à primeira pergunta. Mas vou-me aprofundar um pouco mais naquela definição inicial. Se, na empatia, a dor do outro dói em mim, é porque me conectei com essa dor. Ter a condição de me conectar à dor de alguém, não significa sentir a mesma dor.


Eu busco dentro de mim algum processo de sofrimento que já passei e me identifico com a outra pessoa, independentemente do tipo de sofrimento. Desta forma, consigo me conectar à pessoa e à sua dor.


Dor é dor e sofrimento é sofrimento. São estados pelos quais todos nós passamos em algum momento da vida, cada um em seu contexto e em sua intensidade. Cada um lida com esse estado do seu jeito, segundo seus recursos internos, seus recursos financeiros, valores familiares, cultura, religião, história passada e presente, sua perspectiva de futuro. Portanto, a definição de empatia, levando-se em consideração que teremos alguma ação na direção de minimizar a dor do outro, será: “capacidade de se colocar no lugar do outro E tentar realmente compreender um ponto de vista diferente do seu”.


Caso contrário, as soluções que vamos propor podem não diminuir o sofrimento e ainda, ao contrário, fazer com que o outro se sinta pior, por não ter os recursos internos e/ou externos (que nós propusemos) para lidar com essa dor; ou por enxergar nossas soluções como algo que vai contra sua visão de vida e valores morais. Em ambos os casos, o que fica é a nítida sensação de estar sendo julgado por quem ofereceu a solução tão lógica e fácil (para quem ofereceu)! Isso é empatia?


É preciso parar de olhar para nós mesmos, enxergando o que nós faríamos no lugar dessa pessoa, e olharmos para ela com interesse, curiosidade, compreensão e conexão, respeitando-a e valorizando-a. É preciso ter em mente o que o outro faria. E, talvez, ele não fizesse realmente nada. Talvez ele não queira uma solução. Talvez essa pessoa só queira se ouvir falando, para se organizar e, só então, encontrar o próprio caminho.


Por isso, na empatia, nem sempre uma resposta ou uma solução são a atitude que ajuda no momento da conexão. Mas um abraço, a afirmação de que está junto para o que a pessoa precisar ou “nem sei o que te dizer, mas estou aqui”, ajudam mais do que agir de forma desenfreada, agindo no lugar da pessoa ou propondo caminhos impossíveis para ela. Isso só reforça a sensação de impotência que ela pode estar sentindo naquele momento.


Você consegue fazer isso? Apenas abraçar? Apenas ouvir? E, se for para propor solução, fazê-lo sem o sentido de que essa é a verdade e o caminho, levando em consideração o que a pessoa tem condições reais de fazer? Buscar conhecer e respeitar os valores, as crenças e toda a condição de ação da pessoa por quem nos sentimos empatizados, ou seja, conectados pela dor?


Pense bem!


O tema é bem complexo e daria para ficar escrevendo e escrevendo sobre o assunto. Mas agora, quero falar apenas sobre mais dois aspectos muito importantes no que diz respeito à empatia.


O primeiro é que, pela origem da palavra empatia, em geral associamos somente ao sofrimento do outro, exatamente como foi desenvolvido até aqui. Porém, colocar-se no lugar do outro, respeitando seu ponto de vista, pode ser aplicado, também, às alegrias da outra pessoa, às suas conquistas. Posso perfeitamente ficar feliz com, pelo e junto com o outro. E essa capacidade é muito, muito importante, entendendo-se que, igualmente, nem todo mundo tem essa capacidade. Você tem?


O outro aspecto importantíssimo quando se fala sobre empatia, é questionar se você tem capacidade de senti-la em relação a si mesmo. A autoempatia acontece quando deixo de ser perfeccionista e autoexigente; quando minha autoestima está equilibrada e consigo gostar do que fiz/consegui e quando admito que, se não fiz/consegui, houve obstáculos reais que não me permitiram chegar a isso. Sem crítica, sem me castigar, sem me culpar. E essa, você consegue?


E então? Volto a perguntar: você se considera empático(a)?


A boa notícia é que, quem não nasce com essa capacidade tem possibilidade de desenvolvê-la. Por decisão, por escolha. Aprender a olhar o outro com interesse, curiosidade, compreensão e conexão, respeitando-o e valorizando-o exige vontade de fazer isso, exige desprender-se da vaidade de achar que, se fosse você, faria tudo diferente. Você já entendeu que faria mesmo, não é? Afinal, você é outra pessoa e tem toda uma história diferente, que te dá condições de fazê-lo diferente.


Você se propõe a isso? A decisão é sua! Sempre só sua!


Ana Paula Aquilino

Psicóloga CRPSP 20694

Parceira ConQuistaH Consultoria Psicológica


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